terça-feira, 10 de março de 2009

Saudades...


Saudades de acreditar que no meu quintal viviam fadas, que só saíam de noite quando já toda a gente dormia...

Saudades das noites em que, deitada na cama com a cabeceira do rato Mickey, feita pelo pai, acordava antes de ser hora de acordar e abria o olho para aquele raio de luz que entrava pelo estore e que não era de sol, mas de lua... Sair de mansinho, para não acordar a família, e ir espreitar se as fadas estavam mesmo no canteiro e se faziam os bailados que os meus livros de histórias descreviam.

Saudades de acreditar no Pai Natal e de ficar contigo a olhar as estrelas, à espera de ver passar o trenó cheio de brinquedos, puxado por uma dúzia de renas guiadas pelo Rudolfo.

Saudades daqueles acampamentos selvagens na Deserta, em que fazíamos travessias de barco a remos para o outro lado da ilha, para depois rebolarmos duna abaixo, perdidos de riso e num vortex de ideias que acabavam por dar lugar a histórias que só existiam nas nossas cabeças... como a dos buracos mágicos que nos sugavam para dentro da duna, onde havia múmias que ganhavam vida, tesouros de piratas esquecidos... arcas e arcas cheias de jóias preciosas e moedas de ouro... tu desejavas sempre que lá houvesse uma arca cheia de doces...

Saudades das guerras de lodo na maré baixa e dos banhos de mar à noite.

Saudades de saltar em cima da cama e ouvir os gritos da mãe: - Olhem as molaaaaas do colchãoooo.

Saudades das nossas guerras para ver quem mais desarrumava o quarto do outro. Não havia uma gaveta que ficasse por virar em cima da cama ou no chão...

Saudades dos nossos passeios de bina, que acabavam sempre num laranjal alheio, a enchermo-nos de laranjas, com medo de ouvir o disparo de uma caçadeira ou um cão feroz, mas que, ainda assim, não nos impedia de encher os bolsos e as mochilas...

Saudades de discutir contigo para saber quem rapava as pás da batedeira, repletas de massa de bolo... felizmente elas eram sempre duas, embora houvesse uma sempre com mais massa que outra .

Saudades de me meter contigo debaixo dos lençóis, com as lanternas acesas, e imaginar que pilotávamos uma nave espacial rumo a Vénus.

Saudades de comer aquele guarda-chuva de chocolate, eu o vermelho e tu o azul, sempre que havia uma ida ao supermercado com a mãe e o pai.

Saudades de pular para os teus braços e pedir que me levantasses como os bailarinos levantavam as bailarinas e, de de repente, a sala deixar de ser sala e se transformar naquele palco cheio de holofotes e público, o pijama deixar de ser pijama e se transformar naquele vestido de tule branco que só as bailarinas usam... até tu me chamares gorda e tudo voltar à sua forma original.

Saudades das vezes que assaltávamos o galinheiro da vizinha e vínhamos carregados de ovos para fazermos gemadas... sim essas que toda a gente dizia que faziam mal ao fígado.

Saudades de esvaziar pneus contigo e fugir ou de jogar sacos de água do terraço da avó cá para baixo.

Saudades de me deitar silenciosamente ao teu lado, depois de acordar de um pesadelo e fugir para o teu quarto.

Saudades de me sentar na plateia a ver as tuas peças de teatro e sentir aquela lágrima de orgulho rolar bochecha abaixo ou de estar nervosa, num sarau, prestes a dançar para centenas de pessoas, e encontrar-te sentado na bancada, com aquele sorriso que me acalmava.

Saudades de ser assim pequenina e de todos os problemas terem solução...

Já experimentei ser grande. Não gosto! Podemos agora imaginar uma máquina do tempo que nos faça voltar àquelas dunas? Prometo que quando me perguntarem o que quero ser quando for grande, respondo: - Quero ser pequenina outra vez.

8 comentários:

  1. Algumas das saudades aqui descritas até são idênticas às minhas memórias. Pensava há pouco ter resolvido algumas mais pertinentes dos ultimos meses, mas as saudades dizem-nos: Vive a vida! E como tão linda e efémera É!!!

    Sabes que quase todos os problemas têm boas soluções...
    Também temo as saudades que vou ter tuas, quando falas de Lisboa... já penso nisso :x


    O maior obrigado... és a amiga que nunca tive :')
    Beijinhooos Grandes
    CS

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  2. Lindo post, excelente foto. Houve aí umas quantas coisas que ainda consegui reconhecer ;)

    Muito bom,
    RN

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  3. Acho que me lacrimijei todo. :-)

    Very sweet! Adorei

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  4. Está Post, reserva-te uma SUPRESA, bem real,

    Não chovem chocolates todos dias!!!

    Aguarda pela próxima pista :D !!!

    Resto de um dia lindo de muito Sol, quando a Lua nascer revelo-te onde está.

    Procura bem, Curiosa!

    Beijinhos,

    CS

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  5. P/ Carlos Sousa: Sem palavras =) Muito obrigada pela surpresa na minha caixa de correio ahahah... Se soubesse já tinha escrito isto há mais tempo lol... os guarda-chuvas que falava no post são exactamente iguais aos que me deixaste aqui =D Visualizaste a cena direitinha =D Muito obrigada mais uma vez pelo gesto... um já se foi nham nham lol mas ainda tenho trêêêês ahahah... n exageraste nem nada =D

    Beijinho =)

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  6. E lembras-te dos gatos remelosos que nós insistíamos em recolher dos contentores do lixo?

    É com um sorriso que me lembro de tu ficares desesperada por eu dar murros nas paredes e de me tentares fazer ver que elas também sentiam :-)

    Lembro-me como se fosse hoje dos nossos planos para fugir de casa num trenó que tinha rodas mas voava e de como planeávamos em detalhe a rota para recolher a primalhada toda...

    Quem me dera ter agora esse trenó para voar para aí e ter dar uma abraço enorme...

    É com os olhos razos de lágrimas que me lembro de todos os pormenores do teu post, é com saudades de te ter perto de mim que lamento não ter lido isto antes.

    Fazes-me falta!

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  7. =)))) Os gatos, as fugas de casa, os planos arquitectados meticulosamente, as paredes lol... (esta última, minha nossa... =D sempre fui tão caranguejo, n é?...yuuuuck =D) Ainda assim todo o espaço deste blog não bastaria para registar os deliciosos momentos que partilhámos ou mesmo aqueles que, felizmente, continuamos a partilhar... por falar nisso, bem que podias vir a esta semana académica... parece que te vou representar num jantar de curso qualquer ;)

    Também me fazes muita falta, muita, muita mesmo.

    Beijão do tamanho da distância que nos separa*

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