sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quase, quase perfeita...

Há muitos, muitos anos... espera, muitos, muitos também não, há alguns... eis que nasce, algures em Luanda, a rapariga quase, quase perfeita...

«- Se não fosse o excesso de cabelo era linda, mas parece um macaquinho. Até nas costas e nas orelhas tem penugem, coitada! E traz um penacho, já viste?! Devia ter o cabelo torto dentro da barriga... Olha só! Penteio-o, mas não desce!»

Pois é, a penugem caiu toda e o penacho descobriram mais tarde que até o podiam cortar. Hoje sou dona de uma farta e longa cabeleira, capaz de causar inveja a muito mulherio, não fossem outros defeitos que entretanto se desenvolveram.

Nome: Ana Cristina (Após largos dias sem um nome, a avó paterna decide, depois de um jantar, que ninguém abandonava a mesa enquanto a «menina» não tivesse um nome. E assim surge a minha graça... ANA CRISTINA... se pelo menos fosse Ana Catarina, é parecido e tudo, mas não...foi mesmo o Ana CRISTINA que se abateu sobre mim e me passou a definir daí em diante...um nome quase, quase perfeito. Pelo menos não decidiram apelidar-me de Constança do Rosário em homenagem a ambas as avós... Xiça!!)

Idade: Mais de 30 e menos de 35... Ainda tentei ficar no gap entre os 20 e os 30...esperneei e berrei, fiz promessas e até me portei razoavelmente bem, mas não consegui o resultado esperado. Resta-me o consolo de ser considerada trintinha e não trintona, visto que ainda não ultrapassei os 35 - idade a partir da qual se dá o facto por consumado e tudo se torna oficial... Trintonas por excelência ou as também chamadas Balzaquianas.

Sonhos: q.b.... e quase que os realizei, mas... adivinha??? Sim, isso. Esteve quase, quase... foi por um bocadinho assim que não se realizaram. (Bailarina?? «Como filha?? tens os pés chatos, tens que usar botas ortopédicas.» - mais tarde, já adolescente, percebi que era o melhor desporto para quem tinha o pé quase perfeito, mas com defeito. O problema na realidade era o elevado custo das aulas e, assim, acabei por frequentar aulas de dança num clube desportivo das redondezas que, obviamente, não me conduziu a lugar algum. - Veterinária?? - quase, se não tivesse ganho asco à matemática depois de umas ponteiradas da professora do básico, que insistia que as contas de somar não necessitavam de ter parcelas ordenadas - estupor da mulher não teve a sensibilidade de perceber que eu era demasiado organizada para ver as parcelas colocadas à toa, em vez de aparecerem, elegantemente, dispostas por tamanho. E nunca fui filha do Onassis, nem lá perto, para me dar ao luxo de entrar numa dessas privadas que aceitam todos os que tiverem carteiras recheadas, ainda que não percebam da dita disciplina... )

É óbvio que, presentemente, a minha vida não está a atravessar a melhor fase... digamos que cheguei à conclusão que até aqui quase vivi, ou tive a vida quase perfeita, não fossem os pormenores que a fizeram saltar do carril e deixar uma carruagem cheia de sonhos perdida algures a meio do caminho.

No fundo a vida é feita disto mesmo, sonhos (feitos ou desfeitos)... momentos (certos ou errados)... oportunidades (aproveitadas ou perdidas)... decisões (tomadas ou por tomar)... A verdade é que ela se apresenta à nossa frente como este blog... em branco, e somos nós que controlamos o que poderá nascer ou não nesse espaço vazio. Isso, por si só, é já bastante assustador.

Este será o meu canto despido de tudo, aquele onde vou tentar criar, despreocupadamente, o lugar, para mim, quase perfeito.