domingo, 28 de junho de 2009

Sons de Cuba em Loulé

O Festival Med tem vindo a marcar cada vez mais pontos desde a sua primeira edição em 2004. É hoje um dos mais conceituados festivais de World Music e conta com um respeitável e sempre crescente número de visitantes. Já não consigo não marcar presença. Estou completamente viciada no ambiente fantástico que por lá se vive e nas sonoridades cada vez melhores que por lá se apresentam.

Sexta feira passada foi a loucura com os fabulosos Buena Vista Social Club. As entradas chegaram mesmo a esgotar para os mais atrasados. Às sete e meia da tarde já as filas se acumulavam nas bilheteiras.

Decidimos jantar por lá e foi o melhor que fizemos. Não só pelos deliciosos sabores do mediterrâneo que ali se podem experimentar, mas também porque não perdemos pitada dessa noite mágica.

A seguir ao saboroso petisco, dirigimo-nos para o palco da matriz, bastante movimentado por essa altura, onde já se conseguiam escutar os primeiros acordes quentes de Cuba.

Debaixo de uma lua linda, os conterrâneos de Fidel fizeram dançar as mais de cinco mil pessoas presentes, com sons que nos transportaram para os clubes de dança cubanos, onde a salsa é rainha e se entornam mojitos, entre uma dança e outra, para refrescar a garganta.

Há uns anos atrás a minha mãe esteve em Havana, em serviço, e trouxe de lá um CD com Buena Vista. La Vida Es Un Carnaval foi o primeiro som que ouvi destes senhores e já na altura não consegui deixar os pés quietitos no chão. Neste concerto o sentimento manteve-se ao som de Candela ou Chan Chan, entre muitos outros.

Aqui vos deixo uma pitadinha do que foi ouvir estes cubanos cheios de salero, debaixo do verão algarvio e com o estômago forradinho de sabores do mediterrêneo. =)

Arrikikiiii que me vuelvo locaaaa...lol ;)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Thriller Night...

Jantarada do meu aniversário... brindes... risadas... alegria.... e, de repente,... «Anaaa, acabei de receber uma mensagem, o Michael Jackson morreu!»... todos de copo na mão e boca aberta... «Estás a gozar! Não pode ser verdade!»

Pedimos rapidamente que ligassem a TV. Era mesmo verdade... todo o restaurante assistia à notícia inacreditável pela CNN, BBC, Sic Notícias, Sky News... não se falava noutra coisa, MJ tinha mesmo falecido, vítima de paragem cardíaca. O dia que assinala o meu nascimento, passou a ser o dia em que se assinala também a morte do criador do moon walk.

Obviamente que ele gerou imensa polémica e motivou muita desilusão, mas neste momento prefiro lembrar-me dele como aquele que me fez treinar vezes sem conta os seus passos de dança maravilhosos, aquele que foi a banda sonora de tantos momentos felizes da minha vida, aquele que gerava discussões entre mim e os meus amigos para decidirmos quem era o melhor, Michael ou Prince... por tudo isto e porque reconheço o seu imenso talento, vou recordá-lo algures entre o Thriller e o Bad, entre o Billie Jean e o Beat It, entre o Smooth Criminal e o Dirty Diana, entre o I Just Can't Stop Loving You (era eu tão tiniuini =]) e o Heal the World ou ainda antes, muito antes, com o Don't Stop Till You Get Enough ou o grande Can you feel it, a minha favorita dos Jackson 5...

Porque o seu legado não tem tamanho e a sua marca na história da música é indiscutível, aqui fica a minha homenagem ao verdadeiro rei da música pop.

Cheers Mr Jackson, I guess this is it... we will meet again soon... after all, we are just dust in the wind. ;)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Cachorro retrete abaixo

São cenas como esta que me deixam revoltada e capaz de sei lá o quê. Como professora e educadora há mais de 11 anos, não consigo tolerar episódios desta natureza. É disto e de muito mais que falo e reclamo há séculos.

A maior parte dos pais, hoje em dia, acham que educar é isto. Não educam pura e simplesmente! Esse é um papel atirado para as escolas. Demitem-se do papel de educadores e ainda estragam o trabalho feito pelos professores que, a muito custo, tentam incutir alguns valores em crianças deste género.

Felizmente vou conhecendo excepções, pais que sabem ser pais, pais que realmente educam e fazem crescer seres humanos decentes, crianças com quem tenho o prazer de trabalhar, pessoas que ainda me fazem acreditar. No entanto, são excepções. A maior parte considera que educar como deve ser não inclui uma boa palmada na hora certa, um castigo no momento exacto, uma conversa na altura adequada... a maior parte vive «cansada», «trabalha muito», «não tem tempo», resumidamente e em bom português, não está para se chatear ou culpabiliza-se pela falta de tempo e atenção dada à criancinha e pensa que não castigar é o mais justo.

Ser pai como deve ser não é tarefa para qualquer um. Exige demasiado, estafa, esgota, e não espera que estejamos com tempo ou descansados para acontecer. É um trabalho demasiado árduo, exigente e constante.

Hoje existem os computadores, as playstations, os dvds e as televisões a educar pelos pais... dá tanto jeito ter o menino entretido com estas coisas e ter um minuto de paz e sossego. Cheguei ao ponto de ter que ouvir que o melhor era não mandar trabalhos de casa, porque isso exige que um pai controle e vigie o que está a ser feito... e não há tempo.

Por favor, quando é que esta gente vai acordar?

Depois acontecem cenas como as que presenciei há umas semanas atrás no centro de saúde. Tinha lá ido com um aluno, depois deste se ter aleijado num pulso a jogar futebol. Estava na sala de espera a conversar com o miúdo quando entra uma mulher queixosa, agarrada a um braço, cheia de dores e a choramingar, acompanhada por um agente da GNR. Tinha levado uma tareia do filho de 20 anos e dizia ela que aquela era já a nona vez que tal acontecia. Fiquei com um certo nojo da mulher. E não, o filho não era toxicodependente, era «apenas bruto» dizia a dita senhora. E orgulhava-se quando me dizia que nem ela nem o pai do anormal alguma vez lhe tinham batido... «-Nem uma chapada levou.»...

É para isto que caminhamos a largos passos. Primeiro bate na mãe, depois no professor e mais tarde na mulher.

Assistam a este vídeo, para perceberem o que me revolta na educação de hoje em dia.

Algumas perguntas:

1- Como é que um cachorro de 1 semana serve para brincar em vez de estar perto da mãe? Para a criança não há diferença entre animal e brinquedo?

2- Como é que se chega aos 4 anos de idade sem entender que banho se toma numa banheira e não numa retrete?

3- Como é que se mima uma criança que tem uma atitude destas e se ajuda a criança a encontrar desculpa para a sua atitude? (Esperemos que proximamente a criatura abominável atire com as jóias da «mamã» e com o telemóvel pia abaixo... obviamente para esta senhora estes terão mais valor que a vida de um animal. Talvez as palmadas surjam nessa altura.)

4- Como é que se volta a colocar o pobre cachorro nas mãos da criança depois de tudo o que aconteceu?

5- Como é que ainda se transforma, orgulhosamente, este infeliz episódio numa novela internacional?

Concluindo, esta senhora é um exemplo claro do que é educar para a maior parte dos pais de hoje em dia. Um permissivismo e um absentismo gravíssimo e de consequências lamentáveis para a criança e para quem com ela lidará mais tarde.

Repreender, castigar, punir, discutir, tudo isto cansa e dá trabalho... é muito mais simples relevar, não ligar, passar ao lado. Só que a educação não tolera falta de coerência. Hoje estou menos cansado e castigo-te, educo-te, amanhã estou mais cansado e é o que sa foda style, faz lá o que quiseres desde que não me chateies.



sexta-feira, 12 de junho de 2009

The eye... it cannot choose but see

Estava a ver algumas fotos vencedoras do prémio Pulitzer 2009, quando me deparei com uma das fotos mais polémicas da história deste prémio. A foto da menina sudanesa faminta, tirada por Kevin Carter, em Março de 1993 e que chocou o mundo.

Para tirar esta fotografia Kevin Carter esperou cerca de 20 minutos que um abutre, atrás da menina, abrisse as asas. Tinha o enquadramento perfeito. Uma criança faminta que rastejava num campo de refugiados, em busca de uma refeição, e um abutre que pousado esperava a sua morte, para também ele ter o seu banquete. Uma vez que o abutre não colaborou e permaneceu de asas fechadas, o fotojornalista sul-africano desistiu de esperar e tirou várias fotos da criança com o predador tal como estavam. Mais tarde uma delas ficou imortalizada na capa do New York Times, como símbolo da fome e do horror em África.

A foto veio a ganhar o prémio Pulitzer catorze meses depois, em Maio de 1994, altura em que se gera a polémica e o fotógrafo começa a ser bombardeado por críticas lancinantes, que colocam em causa a sua ética: «Um homem ajustando as lentes até conseguir o quadro perfeito do sofrimento da menina bem pode ser visto como um predador, outro abutre em cena» ou que sugerem que a foto teria sido «encenada», questionando a sua autenticidade.

A 27 de Julho desse mesmo ano, dois meses depois de ganhar o tão conceituado prémio e de se ter tornado na sensação do momento em Nova Iorque, Kevin Carter suicida-se, com apenas 33 anos.

Mais tarde os Manic Street Preachers, no seu álbum Everything Must Go, dedicam uma música a este fotojornalista.

Apesar de já terem passado 16 anos desde que a foto foi tirada, continua a conseguir impressionar quem vê. Choca-me pensar que cenas destas continuam a repetir-se mundo fora. Não houve evolução em quase duas décadas. Continuam a ser gastos milhões em armamento e guerras de poder absolutamente desnecessárias, em detrimento do que de facto é importante.

«War doesn't determine who is right, war determines who is left.».
Bertrand Russel

sexta-feira, 5 de junho de 2009

SOS Animais de Estimação

Anteontem voltei ao canil como vos tinha dito no último post. Fui buscar o cãozito que encontraram na estrada, prestes a ser atropelado, e que lá deixaram a semana passada.

Desta vez fui muito bem recebida e o encarregado de serviço quis mostrar-me o que estavam a fazer. Levou-me para uma sala onde se encontrava um homem a mexer uma panela gigante, para a qual estavam a ser atirados nacos de carne, fora de prazo, chegados dos hipermercados das redondezas. Penso eu que ainda em condições, apesar de ultrapassada a data de validade registada nas embalagens (quero acreditar que sim).

- Eles comem o mesmo que nós, está a ver? Veja bem. Andam para aí a dizer que matamos os cães. Veja bem isto... (e mostrava-me embalagens de frango e de legumes que descarregava do carro e entregava na sala da panela gigante).

Sei que não é de todo a melhor alimentação, especialmente para cães bebés (todos os que aqui me chegaram vinham com diarreia), mas dada a falta de verba para estas coisas, é bem melhor que nada... assim a comida esteja ainda em condições.

Quis ver os quatro cãezitos que ainda mamam e para quem já arranjei também dono, aqueles que estavam na tampa da caixa há duas semanas. Levaram-me para os fundos do canil, para uma zona onde se encontram cães mais pequenitos e frágeis ou demasiado doces para se misturarem com os grandes das boxes. Fiquei besuntada de mijo e trampa num ápice, mas era impossível fazer aquele percurso e sair intacta. Todos me saltavam às pernas como que a dizer: - A mim, a mim, escolhe-me a mim... - não é fácil sair de lá com um cão só, a vontade que temos é resgatar todos. No meio de todos aqueles estava uma franjolas preta e branca com uns 3 meses, que se sentou e inclinou a cabeça deixando aparecer um olhito apenas e que me fez esquecer que ali tinha entrado para ir ver os quatro bebés. Num impulso disse à senhora que ali estava comigo: - Esta... quero levar esta também.- a senhora sorriu e apenas disse: - Vais sair daqui também maluca?...

Os quatro cãezitos ainda não estavam prontos a sair, portanto vim embora com o lobito e a «maluca»... que, por sinal, não tinha ainda dono, mas que eu tinha esperança de arranjar... havia um aluno interessado num cão... se esse não quisesse, havia de existir, na escola, quem não resistisse aos encantos da franjolas. Fui pô-los em casa com água e comida, tomei um duche, mudei a roupa, que tresandava a trampa, e zarpei para uma formação que estava a ter e para a qual já ia muito fora de horas.

Quando cheguei a casa... não, não imaginam... o chão da minha varanda da cozinha era um paraíso para as moscas, parecia o canil. E os dois resgatados? Patinavam entretidos em cima das suas bostas. Pareciam bem dispostos... já eu... =/

Vá Ana! Veste a farda da lixívia, agarra na bela da esfregona (ai como adoro um bom balde e uma boa esfregona) e esfrega... Os 40 minutos que se seguiram foram de um prazer intenso, a apanhar tudo aquilo e a lavar a varanda de ponta a ponta, até não restar um vestígio da nova e indesejada decoração.

A seguir? Não, não houve descanso... a seguir tinha duas pestes a olhar para mim e a precisar de um banho de duas horas cada. Banheira com os dois! Toca a tomar o primeiro banho e a dizer adeus ao cheiro nauseabundo e à vida de canil, que com ele descia ralo abaixo.

Depois? Depois havia uma casa de banho a precisar de regressar ao seu estado original... toca a limpar a casa de banho.

Finalmente a minha vez de relaxar num banho de horas. O dia terminou com uma bela refeição para todos, umas brincadeiras na relva do jardim da urbanização e um passeio pelas redondezas.

Chegados a casa, caímos para o lado e só abrimos o olho debaixo do sol do dia seguinte.

Altura de dizer adeus. Levei os dois para a escola. À entrada estava uma das gémeas que ficou com o lobito e a meio da manhã, uma professora maravilhosa, apaixonou-se pela franjolas e levou-a para casa com ela.

Final feliz para os resgatados desta semana.

Tigradita - Hoje chama-se Pipoca e pertence ao Diogo. Já foi ao veterinário. Vive feliz.

Franjolas - Hoje chama-se Twiggy e pertence à professora Lya. Tem por companheiro de brincadeiras um labrador de 6 meses e um imenso terreno para paródias. Vive feliz.

Lobito - Hoje chama-se Óscar e pertence à Maria e à Inês, as duas gémeas que o receberam. Já foi ao veterinário. Vive feliz.

Coxinho mais lindooo - Hoje chama-se Joca e pertence à melhor avó do mundo, a minha. =) Já foi ao veterinário e é um poço de mimos. =) Vive feliz.

Para a semana saem os 4 bebés.

Assim termina a Área de Projecto do 6ºA, após um ano inteiro de trabalho, campanhas de sensibilização, angariação de bens e adopções.

Ao todo foram salvos 8 cães, mas é pouco, muito, muito pouco.

Por favor adoptem animais, visitem os canis, apadrinhem... AJUDEM!

Eu sei que não é fácil olhar para um animal fedorento e sujo, com parasitas presos ao focinho, subnutrido, ferido e imaginá-lo de banho tomado, desparasitado, de pelo bonito, sem cheirar mal, saudável e bem alimentado, mas todos eles se podem transformar em animais lindos e os mais fiéis ao dono que possam imaginar, porque mais do que qualquer outro, estes animais reconhecem o valor de um dono que os resgata de uma vida miserável e de sofrimento. Garanto-vos que a felicidade que vem de recuperar um animal destes não tem explicação possível. Tudo dá trabalho, nada aparece feito, mas a recompensa será imensa e a satisfação inenarrável.

Deixo-vos com um vídeo de alguns casos felizes, de cães em quem os novos donos acreditaram apesar de os verem em péssimas condições. Adoraram-nos de qualquer maneira e deram-lhes uma segunda oportunidade. Mudaram-lhes a vida.

Ficam também algumas fotografias de uma turma maravilhosa, com quem adorei trabalhar os últimos dois anos da minha vida e de quem me despeço este ano. Para eles um enorme obrigado.

Para terminar, deixo-vos também o link do documentário Earthlings, em português Terráqueos, vencedor de vários prémios e que traz até nós uma realidade dura e que todos temos a obrigação de tentar mudar. (Aviso que as imagens são demasiado fortes, mas por vezes é necessário olhar para elas com os olhos bem abertos, visitar uns canis e perceber que estas coisas existem... a nós cabe mudá-las. A minha turma assistiu a este documentário sem dizer uma palavra... foi assim que arrancou a nossa Área de Projecto... eles perceberam e são apenas crianças de 12 anos).




Ver o documentário Earthlings (Terráqueos)

AQUI

terça-feira, 2 de junho de 2009

Canil Municipal de Olhão

Pois é, Olhão, essa grande localidade, muito falada ultimamente pelo seu futebol, mas uma vergonha no que se refere ao tratamento dos seus animais de estimação.

A cidade dispõe de um "pseudo" canil, que não se parece com coisa nenhuma e de governantes que se preocupam apenas com o que é mediático e, consequentemente, lhes dê mais alguns votos.

O canil não dá votos, pensam eles. Enganam-se! O meu já dançou.

O motivo da minha revolta? Passo a explicar: em tempos escrevi ao Sr. Presidente da Câmara, para lhe falar de um projecto que estava a desenvolver com os meus alunos, na escola, e que se intitulava «SOS Animais de Estimação». Expliquei que gostaríamos de saber as necessidades do canil, para fazermos uma campanha de angariação de bens e que gostaríamos também de visitar as instalações, com o objectivo de fotografar os animais que ali se encontravam para adopção. Com essas fotos construiríamos, posteriormente, uma página na internet que aumentasse as possibilidades de adopção. O digníssimo nem se deu ao trabalho de responder.

Acabámos por trabalhar com outros canis, cujos responsáveis se interessaram e se prontificaram a colaborar. Tudo isto começou em Outubro.

Ainda assim fiquei com pena dos animais que se encontravam enjaulados naquele pseudo canil e fui lá em Dezembro, com a minha avó, adoptar um cão.

Dei voltas e mais voltas de carro, na zona onde me tinham dito que funcionava o canil. Nem uma placa, nem um nome na entrada que identificasse o sítio, nadaaaa... nada há na cidade que publicite a existência do local, nenhuma placa que ajude quem não conhece a chegar às instalações, nada.

Parei então num lugar onde vi entrar uns camiões de recolha de lixo, para perguntar se me sabiam dizer onde funcionava o canil municipal. Fui atendida, por um homem mal formado e sem qualquer capacidade para lidar com o público. À minha pergunta a personagem respondeu:
- O que é que quer do canil?
- Adoptar um cão!
- O canil é ali ao fundo. (E apontou para um caminho de terra batida, ladeado por contentores de lixo, armazéns e camiões de recolha de resíduos)
- Ali onde exactamente??!!
- Ali ao fundo, não está a ver??!! A seguir à palmeira, à esquerda. Está lá uma mulher, logo fala com ela.

Fui chamar a minha avó ao carro e lá nos dirigimos ao dito canil.

Chegadas ao local, nem queríamos acreditar no que os nossos olhos viam. Um corredor com boxes só do lado direito, num sítio que não via a luz do sol durante a maior parte do dia (apesar de não estar em recinto fechado). Umas 4 ou 5 jaulas com uns 3m de largura por 4 ou 5 de comprimento, completamente abarrotadas de animais, que se mordiam uns aos outros, em brigas constantes, cheios de mazelas e sujos como tudo. O cheiro era nauseabundo.

O horário das adopções e visitas é de segunda a sábado, das 11:30h às 13:30h, mas é exactamente nessa hora que é feita a lavagem das boxes, com os animais lá dentro (os infelizes não saem de lá em hipótese alguma. Fazem lá as necessidades, comem, dormem, brigam, adoecem e morrem). As pessoas que tentam visitar as instalações são quase que enxotadas do corredor das ditas, com a água imunda que lhes atiram para os pés. Se não forem muito apaixonadas por cães desistem de resgatar um animal.

A minha avó acabou por trazer um cachorro com um ano, coxo de uma pata, que se encontrava nos fundos do canil (este ninguém quer porque é coxo - dizia a mulher que nos recebeu). Hoje está lindo e chama-se Joca.

Há umas semanas voltei lá com uma amiga e colega da escola. Queríamos levar dois cães bebés para dar a duas pessoas que tinham pedido. Quando lá chegámos, vimos cães que já estavam nas jaulas em Dezembro... continuavam no mesmo sítio, nunca sairam dali em seis meses, nem para esticar as pernas.

Mostraram-nos uma cadela tigradinha ali deixada, porque os donos não eram portugueses e regressaram a um país de Leste qualquer. Enquanto nos mostravam essa delícia, reparei que atrás de nós estava a tampa de uma caixa, com quatro cães que nem os olhos ainda tinham abertos. Perguntei porque razão estavam aqueles quatro ali. Responderam-me que estavam ali para «pôr a dormir». Indignada perguntei porque carga de água matavam eles cães bebés, visto que eram os mais procurados pelas pessoas. Não me responderam. Pedi que pusessem os cães junto à mãe, que eu me comprometia a ir buscá-los três semanas depois. A custo, e depois de falarem com o encarregado, lá voltaram a pôr os cães com a mãe.

Pedi que cuidassem da tigradinha que ia arranjar dono para ela também. Encontrei um dono cinco estrelas para a cadelita. Passou o fim de semana comigo e depois de uma banhoca, foi entregue ao novo dono, que se apaixonou por ela na hora.

Quando fui buscar a tigradita, estava a dar entrada um cãozito com cerca de dois meses e meio, levado pela mão de uma mulher que dizia tê-lo encontrado na estrada, prestes a ser atropelado. Não resisti e pedi que o pusessem a salvo, que ia arranjar um dono também para ele. Pelo que sei, enfiaram-no num sítio com gatos.

Antes tinham-no atirado para dentro de uma sala que tresandava a éter. Eu própria não aguentei o cheiro e já tinha os olhos a arder. Imaginem os cães que têm um olfacto não sei quantas vezes mais apurado que o nosso. Nem quero imaginar porque é que aquela sala tinha aquele cheiro, nem o que estariam a fazer.

Já encontrei donas para o pobrezito e vou tirá-lo do inferno amanhã, mal abra o canil.

Eu sei que há canis municipais a funcionar como deve ser, com as pessoas certas a dirigi-los, pessoas com a sensibilidade adequada, mas este não é de todo o caso do canil municipal de Olhão.

Dizia Ghandi que a grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como os seus animais são tratados... sinto Portugal pequenino, pequenino... a long, long way to go still.

Para mais informações sobre o que tem vindo a acontecer neste canil. podem consultar: