sexta-feira, 5 de junho de 2009

SOS Animais de Estimação

Anteontem voltei ao canil como vos tinha dito no último post. Fui buscar o cãozito que encontraram na estrada, prestes a ser atropelado, e que lá deixaram a semana passada.

Desta vez fui muito bem recebida e o encarregado de serviço quis mostrar-me o que estavam a fazer. Levou-me para uma sala onde se encontrava um homem a mexer uma panela gigante, para a qual estavam a ser atirados nacos de carne, fora de prazo, chegados dos hipermercados das redondezas. Penso eu que ainda em condições, apesar de ultrapassada a data de validade registada nas embalagens (quero acreditar que sim).

- Eles comem o mesmo que nós, está a ver? Veja bem. Andam para aí a dizer que matamos os cães. Veja bem isto... (e mostrava-me embalagens de frango e de legumes que descarregava do carro e entregava na sala da panela gigante).

Sei que não é de todo a melhor alimentação, especialmente para cães bebés (todos os que aqui me chegaram vinham com diarreia), mas dada a falta de verba para estas coisas, é bem melhor que nada... assim a comida esteja ainda em condições.

Quis ver os quatro cãezitos que ainda mamam e para quem já arranjei também dono, aqueles que estavam na tampa da caixa há duas semanas. Levaram-me para os fundos do canil, para uma zona onde se encontram cães mais pequenitos e frágeis ou demasiado doces para se misturarem com os grandes das boxes. Fiquei besuntada de mijo e trampa num ápice, mas era impossível fazer aquele percurso e sair intacta. Todos me saltavam às pernas como que a dizer: - A mim, a mim, escolhe-me a mim... - não é fácil sair de lá com um cão só, a vontade que temos é resgatar todos. No meio de todos aqueles estava uma franjolas preta e branca com uns 3 meses, que se sentou e inclinou a cabeça deixando aparecer um olhito apenas e que me fez esquecer que ali tinha entrado para ir ver os quatro bebés. Num impulso disse à senhora que ali estava comigo: - Esta... quero levar esta também.- a senhora sorriu e apenas disse: - Vais sair daqui também maluca?...

Os quatro cãezitos ainda não estavam prontos a sair, portanto vim embora com o lobito e a «maluca»... que, por sinal, não tinha ainda dono, mas que eu tinha esperança de arranjar... havia um aluno interessado num cão... se esse não quisesse, havia de existir, na escola, quem não resistisse aos encantos da franjolas. Fui pô-los em casa com água e comida, tomei um duche, mudei a roupa, que tresandava a trampa, e zarpei para uma formação que estava a ter e para a qual já ia muito fora de horas.

Quando cheguei a casa... não, não imaginam... o chão da minha varanda da cozinha era um paraíso para as moscas, parecia o canil. E os dois resgatados? Patinavam entretidos em cima das suas bostas. Pareciam bem dispostos... já eu... =/

Vá Ana! Veste a farda da lixívia, agarra na bela da esfregona (ai como adoro um bom balde e uma boa esfregona) e esfrega... Os 40 minutos que se seguiram foram de um prazer intenso, a apanhar tudo aquilo e a lavar a varanda de ponta a ponta, até não restar um vestígio da nova e indesejada decoração.

A seguir? Não, não houve descanso... a seguir tinha duas pestes a olhar para mim e a precisar de um banho de duas horas cada. Banheira com os dois! Toca a tomar o primeiro banho e a dizer adeus ao cheiro nauseabundo e à vida de canil, que com ele descia ralo abaixo.

Depois? Depois havia uma casa de banho a precisar de regressar ao seu estado original... toca a limpar a casa de banho.

Finalmente a minha vez de relaxar num banho de horas. O dia terminou com uma bela refeição para todos, umas brincadeiras na relva do jardim da urbanização e um passeio pelas redondezas.

Chegados a casa, caímos para o lado e só abrimos o olho debaixo do sol do dia seguinte.

Altura de dizer adeus. Levei os dois para a escola. À entrada estava uma das gémeas que ficou com o lobito e a meio da manhã, uma professora maravilhosa, apaixonou-se pela franjolas e levou-a para casa com ela.

Final feliz para os resgatados desta semana.

Tigradita - Hoje chama-se Pipoca e pertence ao Diogo. Já foi ao veterinário. Vive feliz.

Franjolas - Hoje chama-se Twiggy e pertence à professora Lya. Tem por companheiro de brincadeiras um labrador de 6 meses e um imenso terreno para paródias. Vive feliz.

Lobito - Hoje chama-se Óscar e pertence à Maria e à Inês, as duas gémeas que o receberam. Já foi ao veterinário. Vive feliz.

Coxinho mais lindooo - Hoje chama-se Joca e pertence à melhor avó do mundo, a minha. =) Já foi ao veterinário e é um poço de mimos. =) Vive feliz.

Para a semana saem os 4 bebés.

Assim termina a Área de Projecto do 6ºA, após um ano inteiro de trabalho, campanhas de sensibilização, angariação de bens e adopções.

Ao todo foram salvos 8 cães, mas é pouco, muito, muito pouco.

Por favor adoptem animais, visitem os canis, apadrinhem... AJUDEM!

Eu sei que não é fácil olhar para um animal fedorento e sujo, com parasitas presos ao focinho, subnutrido, ferido e imaginá-lo de banho tomado, desparasitado, de pelo bonito, sem cheirar mal, saudável e bem alimentado, mas todos eles se podem transformar em animais lindos e os mais fiéis ao dono que possam imaginar, porque mais do que qualquer outro, estes animais reconhecem o valor de um dono que os resgata de uma vida miserável e de sofrimento. Garanto-vos que a felicidade que vem de recuperar um animal destes não tem explicação possível. Tudo dá trabalho, nada aparece feito, mas a recompensa será imensa e a satisfação inenarrável.

Deixo-vos com um vídeo de alguns casos felizes, de cães em quem os novos donos acreditaram apesar de os verem em péssimas condições. Adoraram-nos de qualquer maneira e deram-lhes uma segunda oportunidade. Mudaram-lhes a vida.

Ficam também algumas fotografias de uma turma maravilhosa, com quem adorei trabalhar os últimos dois anos da minha vida e de quem me despeço este ano. Para eles um enorme obrigado.

Para terminar, deixo-vos também o link do documentário Earthlings, em português Terráqueos, vencedor de vários prémios e que traz até nós uma realidade dura e que todos temos a obrigação de tentar mudar. (Aviso que as imagens são demasiado fortes, mas por vezes é necessário olhar para elas com os olhos bem abertos, visitar uns canis e perceber que estas coisas existem... a nós cabe mudá-las. A minha turma assistiu a este documentário sem dizer uma palavra... foi assim que arrancou a nossa Área de Projecto... eles perceberam e são apenas crianças de 12 anos).




Ver o documentário Earthlings (Terráqueos)

AQUI

11 comentários:

  1. Parabéns por estares a fazer a tua parte (e mais que a tua parte)....e obrigado tb!.

    O primeiro video é impressionante. Uma vez o Miles figiu para a rua só de pensar nele ao frio...e é um gato maricas criado a pão de ló..imagino estes coitados destes bichinhos a passar por isto tudo!

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  2. P/ LC: Obrigada, mas não o faço para que me agradeçam, faço-o porque não consigo ficar indiferente a estas coisas, faço-o porque acho que se cada um fizer um bocadinho que seja, as coisas melhoram significativamente.

    Entendo a razão pela qual te comoves com estas coisas, tens um animal de estimação, tal como eu, e ambos sabemos o que é ter um amigo de 4 patas e não um bibelot de varanda.

    O cão que aparece na foto da campanha de angariação de bens é o meu Bolshoi. =) Vive comigo desde que fez 1 mês e meio e, apesar de tudo o que ele já me estragou, apesar do trabalho que me dá, apesar do dinheiro que gasto, nada me faria abandoná-lo ou entregá-lo num canil. As compensações são sempre muito superiores a tudo o resto. Só quem os tem, no real sentido da palavra, entende tudo isto. =) ********

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  3. ...este documentário Earthlings.. não dá para ver. Fónix...vi uns 15 minutos e não consigo.

    Sim...tb tenho uns sofás lá em casa quase a se desintegrarem por causa do miles..mas valeu a pena!

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  4. P/ LC: Tens razão, o «Earthlings» é demasiado pesado, mas infelizmente é a realidade, nada ali foi inventado. Choca, faz chorar, revolta, mas por vezes é necessário que as pessoas vejam o que se passa por aí, para descerem à terra e pararem de dizer apenas: «Coitadinho! Que pena!» e comecem a tentar mudar as coisas realmente. Há manifestações nas ruas, contra touradas, a favor dos direitos dos animais, há leis feitas pelo BE à espera de aprovação e que se referem aos direitos dos animais, há canis a precisar de voluntariado, há campanhas de adopção a precisar de ser feitas, há famílias de acolhimento temporário (as chamadas FAT) a serem necessárias com urgência, há muita, muita coisa que se pode fazer, mas isso obriga a sair do comodismo da vida de todos os dias e a dar bastante de nós. Infelizmente vivemos num mundo cada vez mais egoísta e virado para o seu umbigo. Isso reflecte-se até nas relações entre as pessoas. Amorosas ou de amizade, que são pautadas pelo egoísmo e acabam por ruir mais cedo ou mais tarde. Ainda bem que vão existindo as excepções. ;)

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  5. Vi ontem o Earthlings. Obriguei-me a ver tudo apesar de ser duríssimo. A minha opinião não cabe neste comentário por isso vou fazer um post no blog sobre o filme.

    jinhos

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  6. P/ Ora: Ainda bem que o viste, é duro, eu sei, mas é como digo, às vezes é necessário bater de frente com a realidade para acordar e começar a agir, a tentar mudar as coisas. As grandes mudanças começam sempre com minorias revoltadas. Tem sido sempre assim ao longo da História. Ansiosa por ler o teu post.

    Beijo grande e obrigada por teres visto*

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  7. Parabens pelo trabalho, alias pelo Amor!

    Bj

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  8. P/ Hugo: Obrigado Hugo. Parabéns para ti também pela dedicação e esforço ;)

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  9. Não dá..tentei ver pela sgunda vez..mas quando apareceram os gatos..foi demais (por razões óbvias).

    :(

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  10. P/ LC: Sim, eu sei, n é fácil. É demasiado duro. Revolta e envergonha um ser humano digno desse nome. Ficaste com a ideia do que por aí se passa, chega perfeitamente. ;)

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  11. Que saudadeeeeeeeees !
    tem que vir fazer uma visitinha ao 7ºA :D
    Um beijinho grande e porte se bem hehe :b

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