Pois é, Olhão, essa grande localidade, muito falada ultimamente pelo seu futebol, mas uma vergonha no que se refere ao tratamento dos seus animais de estimação.
A cidade dispõe de um "pseudo" canil, que não se parece com coisa nenhuma e de governantes que se preocupam apenas com o que é mediático e, consequentemente, lhes dê mais alguns votos.
O canil não dá votos, pensam eles. Enganam-se! O meu já dançou.
O motivo da minha revolta? Passo a explicar: em tempos escrevi ao Sr. Presidente da Câmara, para lhe falar de um projecto que estava a desenvolver com os meus alunos, na escola, e que se intitulava «SOS Animais de Estimação». Expliquei que gostaríamos de saber as necessidades do canil, para fazermos uma campanha de angariação de bens e que gostaríamos também de visitar as instalações, com o objectivo de fotografar os animais que ali se encontravam para adopção. Com essas fotos construiríamos, posteriormente, uma página na internet que aumentasse as possibilidades de adopção. O digníssimo nem se deu ao trabalho de responder.
Acabámos por trabalhar com outros canis, cujos responsáveis se interessaram e se prontificaram a colaborar. Tudo isto começou em Outubro.
Ainda assim fiquei com pena dos animais que se encontravam enjaulados naquele pseudo canil e fui lá em Dezembro, com a minha avó, adoptar um cão.
Dei voltas e mais voltas de carro, na zona onde me tinham dito que funcionava o canil. Nem uma placa, nem um nome na entrada que identificasse o sítio, nadaaaa... nada há na cidade que publicite a existência do local, nenhuma placa que ajude quem não conhece a chegar às instalações, nada.
Parei então num lugar onde vi entrar uns camiões de recolha de lixo, para perguntar se me sabiam dizer onde funcionava o canil municipal. Fui atendida, por um homem mal formado e sem qualquer capacidade para lidar com o público. À minha pergunta a personagem respondeu:
- O que é que quer do canil?
- Adoptar um cão!
- O canil é ali ao fundo. (E apontou para um caminho de terra batida, ladeado por contentores de lixo, armazéns e camiões de recolha de resíduos)
- Ali onde exactamente??!!
- Ali ao fundo, não está a ver??!! A seguir à palmeira, à esquerda. Está lá uma mulher, logo fala com ela.
Fui chamar a minha avó ao carro e lá nos dirigimos ao dito canil.
Chegadas ao local, nem queríamos acreditar no que os nossos olhos viam. Um corredor com boxes só do lado direito, num sítio que não via a luz do sol durante a maior parte do dia (apesar de não estar em recinto fechado). Umas 4 ou 5 jaulas com uns 3m de largura por 4 ou 5 de comprimento, completamente abarrotadas de animais, que se mordiam uns aos outros, em brigas constantes, cheios de mazelas e sujos como tudo. O cheiro era nauseabundo.
O horário das adopções e visitas é de segunda a sábado, das 11:30h às 13:30h, mas é exactamente nessa hora que é feita a lavagem das boxes, com os animais lá dentro (os infelizes não saem de lá em hipótese alguma. Fazem lá as necessidades, comem, dormem, brigam, adoecem e morrem). As pessoas que tentam visitar as instalações são quase que enxotadas do corredor das ditas, com a água imunda que lhes atiram para os pés. Se não forem muito apaixonadas por cães desistem de resgatar um animal.
A minha avó acabou por trazer um cachorro com um ano, coxo de uma pata, que se encontrava nos fundos do canil (este ninguém quer porque é coxo - dizia a mulher que nos recebeu). Hoje está lindo e chama-se Joca.
Há umas semanas voltei lá com uma amiga e colega da escola. Queríamos levar dois cães bebés para dar a duas pessoas que tinham pedido. Quando lá chegámos, vimos cães que já estavam nas jaulas em Dezembro... continuavam no mesmo sítio, nunca sairam dali em seis meses, nem para esticar as pernas.
Mostraram-nos uma cadela tigradinha ali deixada, porque os donos não eram portugueses e regressaram a um país de Leste qualquer. Enquanto nos mostravam essa delícia, reparei que atrás de nós estava a tampa de uma caixa, com quatro cães que nem os olhos ainda tinham abertos. Perguntei porque razão estavam aqueles quatro ali. Responderam-me que estavam ali para «pôr a dormir». Indignada perguntei porque carga de água matavam eles cães bebés, visto que eram os mais procurados pelas pessoas. Não me responderam. Pedi que pusessem os cães junto à mãe, que eu me comprometia a ir buscá-los três semanas depois. A custo, e depois de falarem com o encarregado, lá voltaram a pôr os cães com a mãe.
Pedi que cuidassem da tigradinha que ia arranjar dono para ela também. Encontrei um dono cinco estrelas para a cadelita. Passou o fim de semana comigo e depois de uma banhoca, foi entregue ao novo dono, que se apaixonou por ela na hora.
Quando fui buscar a tigradita, estava a dar entrada um cãozito com cerca de dois meses e meio, levado pela mão de uma mulher que dizia tê-lo encontrado na estrada, prestes a ser atropelado. Não resisti e pedi que o pusessem a salvo, que ia arranjar um dono também para ele. Pelo que sei, enfiaram-no num sítio com gatos.
Antes tinham-no atirado para dentro de uma sala que tresandava a éter. Eu própria não aguentei o cheiro e já tinha os olhos a arder. Imaginem os cães que têm um olfacto não sei quantas vezes mais apurado que o nosso. Nem quero imaginar porque é que aquela sala tinha aquele cheiro, nem o que estariam a fazer.
Já encontrei donas para o pobrezito e vou tirá-lo do inferno amanhã, mal abra o canil.
Eu sei que há canis municipais a funcionar como deve ser, com as pessoas certas a dirigi-los, pessoas com a sensibilidade adequada, mas este não é de todo o caso do canil municipal de Olhão.
Dizia Ghandi que a grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como os seus animais são tratados... sinto Portugal pequenino, pequenino... a long, long way to go still.
Para mais informações sobre o que tem vindo a acontecer neste canil. podem consultar: